segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Erros" Ortográficos na Alfabetização

Alguns trabalhos têm se dedicado a estudar as fases da alfabetização. Dentre eles, podemos destacar o trabalho desenvolvido por Cagliari (1989) que se deteve na tipificação dos "erros" ortográficos cometidos pelas crianças. Lemle (1989) apresentou uma sistematização interessante das relações entre letras e sons e vice-versa que pode, com as devidas adequações para cada comunidade lingüística, contribuir na construção do trabalho pedagógico. Soares (1991) aponta trabalhos desenvolvidos na década de 1970-80 que se dedicaram a analisar.

[...] o processo de transferência da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita, ou de forma teórica, através da análise das relações fonemas-grafemas na língua portuguesa (como em LEMLE, 1982, SILVA, 1974), ou buscando identificar o processo de construção do sistema ortográfico pela criança (são exemplos GNERRE, 1985, MORAIS, 1986).


A culminância do assunto etnias com enfase nos povos indígenas, foi o passeio no Museu do Índio, UNISINOS, em São Leopoldo, embora nossos estudos não tinham como finalidade aprofundar-se no assunto das diferentes tribos indígenas, o que será conteúdos dos próximos anos, o passeio teve um objetivo muito maior que era anotar o que viam, para tanto levaram caderno e lápis.



Penso que quando o aluno é desafiado a grafar palavras que quer empregar é uma forma de provocar nele a necessidade de refletir e formular hipóteses sobre como cada fonema e cada sílaba pode ser representado na escrita. O aluno terá que então se esforçar para distinguir os fonemas que compõe tais palavras e descobrir possibilidades coerentes de escrever os sons identificados, apoiando-se nos princípios e regularidades que já tiver compreendido, buscando também soluções inéditas.

Dessa forma, solicitei às crianças que registrassem os textos de modo que pudessem lembrá-los por meio da escrita.




Anotações de uma aluna (8 anos e 4 meses)


Outro aluno (sete anos e seis meses) fez suas anotações conforme abaixo transcrevo:

“ESCELETO DIMUA CABESA DI TUBARAN

ESCELETO DI UMA CABESA DI JACARE

ESCELETO DINDIO”


A escrita do aluno pode ser lida, entretanto, observa-se a falta de domínio na relação entre grafemas e fonemas. Apropriar-se do sistema de escrita depende fundamentalmente de compreender um de seus princípios básicos: os fonemas são representados por grafemas na escrita.

Os fonemas são entidades elementares da estrutura fonológica da língua, que se manifestam nas unidades sonoras mínimas da fala.

Grafemas são letras ou grupos de letras, entidades visíveis e isoláveis como no exemplo que o aluno escreveu “ESCELETO DIUMA CABESA” quando queria na verdade escrever “ESQUELETO DE UMA CABEÇA”. É necessário que o aluno aprenda as regras de correspondência entre fonemas e grafemas a partir de um trabalho sistemático em sala de aula.


Alguns exemplos de atividades propícias para esse aprendizado são as que se baseiam na decomposição e composição de palavras em sílabas. Separar as sílabas em palavras faladas e observar de que maneira essa separação se configura na escrita ajuda os alunos na identificação e percepção da representação gráfica dos fonemas. Podemos destacar outras atividades que ajudam na compreensão da escrita tais como bingo, textos com lacunas, colocação de palavras em ordem alfabética, confronto entre a escrita produzida pelo aluno e a escrita padrão, etc.

Para ilustrar, outra atividade foi oferecida aos alunos nesta mesma semana, afim de reforçar a grafia das palavras

Após a leitura deleite do livro "o Pirata das Palavras":





Juntos confecionamos um bloquinho para anotações das palavras trabalhadas nas aulas durante a semana.




Os alunos anotam palavras novas, realizam a leitura na sala de aula.
A maioria dos alunos da turma encontra-se nos níveis silábico - alfabético e alfabético, assim sendo, sugeri quais as palavras iriam escrever durante a semana. Exemplo: No primeiro dia escrevemos somente palavras terminadas com L. Trabalhamos estas palavras em jogos e brincadeiras como exercícios de fixação e para finalizar foi realizado um ditado das palavras estudadas.

O aluno que está sendo alfabetizado conhece a fala, não a escrita. As palavras da língua falada são conhecidas, fazem sentido mesmo quando decompostas em unidades sonoras. Assim, o aprendizado do sistema de escrita é importante para o aluno contar com o apoio do significado, em vez de ser obrigado a lidar exclusivamente com abstrações tais como fonemas e sílabas, e nada melhor do que proporcionar aos alunos uma forma prazerosa de aprender.



Referências:


1. CAGLIARI, Luis Carlos. Alfabetização & Lingüística. São Paulo: Scipione, 1989.

2. LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. São Paulo: Ática, 1989.

3. SOARES, Magda Becker. Alfabetização no Brasil: o estado do conhecimento. Brasília: INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

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